Estrada Real

Desde meados do século XVIII já existiam diversos caminhos que conduziam às minas de Minas Gerais, mas também muitos eram os seus descaminhos.

Para evitar estes problemas, a Coroa Portuguesa determinou que o ouro e os diamantes deixassem as terras mineiras apenas por trilhas outorgadas pela realeza, daí o nome de Estrada Real.

Basicamente, tratam-se de caminhos abertos e percorridos em busca do ouro e diamantes no interior do país nos séculos XVII e XVIII pela Coroa Portuguesa.

Os diferentes caminhos

Ainda, convém destacar que a Estrada Real possui três caminhos principais: – o “Caminho Velho” que compreende o percurso entre as cidades de Paraty e Ouro Preto; o “Caminho para o Distrito Diamantino” que liga as cidades de Ouro Preto a Diamantina e o “Caminho Novo”, criado para facilitar a transposição da Serra do Mar ligando o Rio de Janeiro a Ouro Preto (MG).

Esses eram considerados os caminhos oficiais de acesso às minas. Havia a obrigação de que todas as pessoas e todo o tipo de mercadoria circulassem somente por esses caminhos, sendo considerado crime de lesa-majestade a abertura de caminhos alternativos.

Nos primórdios, o caminho ligava somente a cidade de Paraty às províncias do interior de Minas, a antiga Villa Rica, hoje Ouro Preto (Caminho Velho).

Todavia, a Coroa Portuguesa percebeu a necessidade de um trajeto mais seguro e rápido ao porto do Rio de Janeiro, surgindo então o caminho novo. Já no século XVIII, surgiu outra trilha para exploração dos diamantes, chamado de Caminho dos Diamantes.

Se você tem o sonho de conhecer e realizar estes percursos de bicicleta, detalhamos alguns aspectos relevantes que você deve considerar para fazer esta cicloviagem com imersão na cultura brasileira e regional.

Se você pretende desbravar o Caminho dos Diamantes inteiro, de Diamantina a Ouro Preto ou vice versa, entrando de cabeça num dos principais pontos de ciclismo do país, aqui vão alguns detalhes e sugestões.

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Dia 1 – Ouro Preto à Santa Rita Durão (Total do Percurso: 44,6km)

Ouro Preto – Mariana (11km)

Se você optar por ponto de partida a cidade de Ouro Preto, recomenda-se tomar um bom café da manhã e ir logo para o Centro de Atendimento ao Turista, para pegar as credenciais.

No centro de Turismo, com 1 kg de alimento não perecível, você fará a retirada dos passaportes para registrar os carimbos ao longo da viagem.

Cidade de Ouro Preto. Crédito: Unsplash

Em Ouro Preto é interessante ter algum tempo disponível para caminhar com calma pelas suas ruas e descobrir cada canto. Pode subir suas vielas de bicicleta e já começar a sentir toda a atmosfera que envolve toda a aventura.

Vale a visita, também, na Igreja Matriz Basílica de Nossa Senhora do Pilar, que é a mais rica em quantidade de ouro de Minas Gerais e segunda mais rica do Brasil.

A Matriz do Pilar têm aproximadamente 400 quilos de ouro e 400 de prata.

O primeiro trecho do percurso é rápido, já começando com uma grande descida de asfalto. É um trajeto simples e rápido até chegar em Mariana.

Mariana – Camargos (18km)

Mariana é uma cidade mineira cheia de história e possui algumas atrações interessantes, como a Praça Minas Gerais, as Minas da Passagem e a Basílica de São Pedro dos Cléricos.

Não esqueca de ir até a Casa do Turista para pegar seu carimbo no passaporte.

Mariana foi eleita a primeira capital de Minas, ainda no Século XVIII, tendo como principal atração a Catedral da Sé. Não obstante sua fachada modesta, é uma das igrejas mais ricas do Brasil, com lustres de cristal da Boêmia e altares ornados, obras de Aleijadinho e um Órgão Arp Shnitger, de 1753.

Atente-se na saída de Mariana para pegar a estrada real, pois após 2,5 quilômetros da estação ferroviária você deve sair da BR 129 e passar ao lado da garagem da Valetur, considerado o início do Caminho dos Diamantes.

Neste trecho, você passará por algumas áreas de mineração e verificar todo o estrago causado por essa atividade.

Camargos – Santa Rita Durão (15,6km)

Adiante, a primeira vila é a Camargos, um pequeno vilarejo do início do século XVII.

Seguindo adiante e um pouco antes de Bento Rodrigues, há um marco posicionado errado. Infelizmente essa comunidade sofreu com o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, e está sendo paulatinamente reconstruído.

Ainda que a planilha da Estrada Real (ER) já sinaliza o equívoco, há possibilidade de acontecer algum erro na rota, por isso, preste atenção.

Após o marco posicionado a 4,78km de Camargos, é necessário sair à direita na estrada que é perpendicular.

A depender da hora do dia que você começou a pedalada, considere chegar em Santa Rita Durão cedo ou tenha algum planejamento prévio, pois não há hotéis, pousadas ou qualquer coisa do gênero.

A solução é alugar uma cama em um casarão antigo. Esteja preparado, ainda, com algum suprimento, pois não há restaurantes e somente uma padaria na cidade.

Em Santa Rita Durão a principal atração é a Igreja Nossa Senhora de Nazaré. Além do mais, é terra do Frei José de Santa Rita Durão, nascido em 1720 e falecido em 1784, sendo o precursor da Literatura Brasileira e autor de um dos maiores poemas épico brasileiro: ‘Caramuru’.

Recomenda-se um bom descanso neste primeiro dia, para encarar as subidas e descidas que virão pela frente até o destino final.

Dia 2 – Santa Rita Durão à Barão de Cocais (Total do Percurso: 53,4km)

Santa Rita Durão – Morro D’água Quente (11,1km) – Catas Altas (6,9km)

O pedal até Catas Altas também é rápido de ser feito e rende boas paisagens.

A cidade é acolhedora e conta com uma boa estrutura para receber os turistas. Catas Altas é famosa por seu Santuário do Caraça, Capela de Santa Quitéria e seu Bicame de Pedras, que é um aqueduto construído pelos escravos em 1792.

Este aqueduto foi construído pelos escravos e tem 4 metros de altura, onde suas pedras foram postas sob pressão, sem qualquer tipo de concreto, sobre o qual corria água para abastecer as antigas fazendas.

Este trecho é realmente muito bonito e com alguns atrativos que se destacam, como a vista da Serra do Caraça.

Vilarejo na Estrada Real. Crédito: Unsplash

A pedalada se desenvolve juntamente com a Reserva da biosfera da Serra do Espinhaço.

Importante destacar que a serra do Espinhaço pode ser considerada a única cordilheira do Brasil, tendo em vista a sua formação. Trata-se de uma cadeia de montanhas bastante longa e estreita, com diversos picos e vales, tendo aproximadamente 1.000 quilômetros de extensão.

Catas Altas – Santa Bárbara (20,8km)

Chegando em Santa Bárbara, importante destacar que essa foi uma importante cidade no ciclo do ouro e é datada de 1704, possuindo algumas lindas igrejas centenárias, como a Matriz de Santo Antônio, Nossa Senhora das Mercês e Igreja do Rosário.

Passando Santa Bárbara o trajeto fica mais plano e tranquilo, destacando-se pelas belezas naturais.

Todavia, para chegar em Cocais é preciso encarar uma forte subida em terreno acidentado. Seja como for, você estará em meio a natureza. Aproveite para desfrutar cada momento em cima da sua bicicleta.

Santa Bárbara – Barão de Cocais (14,6km)

Este é um trecho um pouco complicado, a marcação da Estrada Real não é das melhores na saída de Barão de Cocais e é preciso ficar atento para não se perder. A subida continua, sendo um dos trechos mais difíceis a ser enfrentado.

Todavia, a vista é maravilhosa e, quando começamos a avistar o vilarejo, ela fica ainda mais estonteante.  É uma parte do pedal que vale a pena e, assim como inúmeros ciclistas, empurrar a bicicleta pode ser uma opção.

Cabe destacar que neste trecho, no quilômetro 8,65 (segundo a planilha do IER), está o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada, que é um local onde estão pinturas rupestres com 6 mil anos.

Barão de Cocais foi fundada no século XVIII, tendo como característica suas belas cachoeiras, além das ruínas do Congo Soco, uma antiga mina adquirida pelos ingleses no século XIX e que acabou se transformando em uma vila.

Aproveite este término do segundo dia para descansar e repor as energias para o resto do passeio, que envolverá ainda muitas montanhas ao longo do seu cicloturismo.

Dia 3 – Barão de Cocais à Itambé de Mato Dentro (Total do Percurso: 84,5km)

Barão de Cocais – Cocais (14km) – Bom Jesus do Amparo (25,5km)

Acorde cedo, confira seus mapas da ER, tome um café da manhã reforçado e pé na estrada.

Saindo de Cocais, sentido Bom Jesus do Amparo, o trajeto fica mais plano, sem tantas alternâncias de descidas e subidas.

Neste trecho existem diversas plantações de café e já está tudo bem melhor sinalizado na ER.

Em Bom Jesus do Amparo, a atração fica por conta da igreja da matriz onde está a única imagem do Brasil de Jesus quando ainda era criança.

O nome Bom Jesus do Amparo é uma homenagem à imagem do Senhor do Bom Jesus, adquirida em Amparo, cidade de Portugal, por seu primeiro morador, coronel João da Motta Ribeiro, no século 18.

Serra do Cipó. Crédito: Unsplash

Bom Jesus do Amparo – Ipoema (13,6km) – Itambé do Mato Dentro (31,4km)

O trecho até Ipoema é em asfalto e tranquilo para pedalar. Ipoema é conhecida pela atividade tropeira, sendo que o Museu da cidade tem o tropeirismo como tema.

Por fim, o caminho até Ipoema sentido Itambé envolve trechos de asfalto, com alguns aclives e declives que podem atrasar um pouco o andamento da viagem.

Este é um dia de bastante esforço no cicloturismo ao redor de MG pela ER. Considere que enfrentará diversas subidas até Diamantina ao longo do passeio.

Aproveite para desbravar as montanhas, enfrentar as trilhas e encarar muita estrada de terra até o final.

É importante manter a revisão da sua bike e ver se está tudo em ordem para continuar até o destino final.

Dia 4 – Itambé de Mato Dentro à Conceição do Mato Dentro (Total do Percurso: 62,4km)

Itambé do Mato Dentro – Morro do Pilar (35km) – Conceição do Mato Dentro (27,4km)

Este é um percurso longo também a ser feito. É importante aferir a descrição do percurso a ser transcorrido para evitar que se perca.

Com a bike em dia, considere que se você planejar sua viagem na mesma quantidade de dias aqui relatados, o seu desgaste físico pode estar mais acentuado. Logo, não hesite em procurar ajuda caso necessário.

De vez em quando, a depender do momento do seu cicloturismo ou do grau de dificuldade enfrentado, pode ser salutar um apoio externo, principalmente nas subidas.

O pedal saindo de Itambé do Mato Dentro até a cidade de Morro do Pilar é a parte mais longa do percurso. Seja como for, aproveite para deslumbrar a paisagem e pedalar com calma, pois Morro do Pilar está localizada na Serra do Cipó, repleta de rios, cachoeiras e trilhas.

Bike na Estrada Real. Crédito: Unsplash

Se você tiver um pouco mais de tempo, pode aproveitar e conhecer alguma das diversas cachoeiras existentes na região e torne sua aventura ainda mais completa.

Aproveite para descansar e repor as energias. Esta é uma cidade com alguma estrutura e pode servir de ponto de apoio para o restante da viagem.

Após tantas cidades, lembre-se de colocar nas suas redes sociais alguns relatos, para incentivar outros ciclistas e manter o ânimo para a parte final.

Dia 5 – Conceição do Mato Dentro à Serro (Total do Percurso: 62km)

Conceição do Mato Dentro – Serro (62km)

Este dia pode ser considerado o mais tranquilo.

Optar por sair de Conceição e seguir a estrada principal até a cidade de Serro pode ser uma alternativa mais eficaz e rápida, principalmente por ser uma via já asfaltada.

Esta estrada faz parte do itinerário da Estrada Real em grande parte, mas se você deseja fazer na íntegra, considere alguns desvios para passar por alguns vilarejos, tais como Itapanhoacanga e Alvorada de Minas.

A cidade de Serro é agradável e merece um tempo maior para conhecer. Caminhar pelas suas ruas e conhecer um pouco de sua história e seu povo.

Essa cidade preserva a construção de sobrados do século XVIII, cujo nome era Vila do Príncipe, e tem uma enorme quantidade de igrejas, como a Igreja de Santa Rita, construída no século XVIII.

Dia 6 – Serro à Diamantina (Total do Percurso: 63,9km)

Serro – Milho Verde (23km)

Enfim, o último dia! Este trecho tem muita subida, não obstante seja toda asfaltada. Seja como for, a vista é espetacular e as belezas naturais compensam todo o esforço.

Antes de chegar em Milho Verde você passará pela cachoeira do Moinho, que é uma queda d’água muito legal para passar algum tempo, principalmente se estiver calor.

Milho Verde – São Gonçalo do Rio das Pedras (7,7km)

Milho Verde é uma pequena cidade, praticamente uma fileira de casas à beira da estrada de terra, com pouquíssimas ruas secundárias, tendo como destaque a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres do século XVII.

Milho Verde foi sede, no século XVIII, de um registro, espécie de alfândega onde se controlava o trânsito de pessoas e de pedras que passavam pela Estrada Real.

São Gonçalo do Rio das Pedras – Diamantina (33,2km)

Diamantina, em Minas Gerais, é uma cidade que resguarda muito da história e cultura brasileira. Já à primeira vista encanta pela arquitetura colonial, pelo calçamento antigo, seus becos e pela paisagem da região.

Se puder, fique alguns dias na cidade para conhecer seus encantos, como a vila operária de Biribiri, de estilo inglês, onde havia no local a Companhia Industrial de Estamparia.

No caminho da vila é possível tomar banho nas cascatas da Sentinela e do Cristal. Para fazer o percurso de bike, considere que o trajeto oferece algumas dificuldades com subidas, trechos de areia e cascalho.

Caminho dos Diamantes – Lugares Especiais

Povoado do Vau e Rio Jequitinhonha

O povoado de Vau é um arraial bucólico, de pessoas simples e atenciosas, situado às margens do rio Jequitinhonha. É um lugar pitoresco que você pode conhecer durante sua pedalada e render boas fotos.

Ainda, no arraial de Três Barras fica a nascente do rio Jequitinhonha, sendo considerado neste ponto um divisor de vegetações.

Ao norte a vegetação típica de cerrado e com grandes formações de quartzo, também típicas na região de Diamantina, enquanto ao sul a vegetação se torna típica de mata atlântica.

Essa é uma região muito bela para se explorar de bicicleta e uma aventura para o resto da vida.

Cachoeira do Tabuleiro e Serra do Cipó

Na localidade de Conceição do Mato Dentro é possível conhecer a Cachoeira do Tabuleiro, considerada a maior de Minas Gerais e a terceira maior do Brasil com 273 metros de queda livre, localizada no povoado do Tabuleiro.

Outro ponto muito interessante da estrada real de bike é admirar a grandiosidade do Cânion Bandeirinhas, que fica dentro do Parque Estadual da Serra do Cipó.

Caminho Velho – Ouro Preto a Paraty

Destaque para uma serra de 22km que separam as duas cidades. São locais de extrema beleza e singularidade.

Em Ouro Preto, recomenda-se visitar o Parque Estadual do Itacolomi. Além de curtir toda a história ao redor da cidade, que parece ter magia especial no ar, com suas íngremes ladeiras de pedra, além de becos, casarões históricos e igrejas.

Seguindo adiante e pedalando pelo Caminho Velho, recomenda-se uma passagem por Ouro Branco. Lugares como a Serras de Ouro Branco e Itatiaia, e picos como do Itacolomi em Ouro Preto e do Itambé, próximo a cidade do Serro, serviam de orientação para os antigos viajantes.

Tiradentes

Para chegar em Tiradentes, uma opção é seguir serra de São José, um enorme maciço de pedras escarpadas por onde circunda a trilha.

É uma estrada muito linda e com paisagens deslumbrantes pela mata quase fechada. No ponto mais alto da Serra, o visual encanta qualquer pessoa.

No vale logo abaixo, ficam as cidades de Tiradentes e São João Del Rey.

Considerações Gerais

Prepare-se para uma grande aventura ao fazer de bicicleta o Caminho da Estrada Real, pois a natureza é deslumbrante e as paisagens inesquecíveis, variando bastante o terreno, a natureza e as características de cada lugar.

Desde asfalto plano e fácil de pedalar a duras subidas em terrenos escorregadios e trilha, passando por grandes e movimentadas cidades a pequenas vilarejos.

Vilarejo na Estrada Real. Crédito: Unsplash

O cicloturista terá a oportunidade de enfrentar os mesmos obstáculos e aventura dos primeiros desbravadores, pois as montanhas são as mesmas e representam o que há de mais original no caminho. 

As dificuldades do caminho costumam trazer boas lições.

O sacrifício para vencer os obstáculos de bike fazem a viagem se tornar um evento memorável, tornando-se mais do que um simples passeio, mas sim uma bela jornada.

Planejamento

É importante ter um planejamento adequado às suas condições físicas, aliado ao grau de experiência.

Não hesite em pensar em ponto de apoio, alimentação e alojamento adequado. Pesquise sobre as cidades do caminho anotando as que mais podem interessar.

Se tiver GPS, poderá buscar alguns traçados já percorridos por outros ciclistas.

Equipamento

A bicicleta será sua principal amiga desta jornada, tenha certeza que está adequada e revisada para enfrentar o desafio. A bike precisa ser boa para encarar estradas de terra (80%) e asfalto.

Optar por uma bicicleta mountain bike ou um modelo gravel são as melhores opções, principalmente para conseguir lidar com o barro.

A bicicleta gravel tem a geometria parecida com a speed, todavia o pneu é mais largo e com travas. Além disso, é equipada com freios a disco, guidão mais alto e pedais de MTB.

Assim, entregam ótima performance nos estradões e rendem quase como uma speed no asfalto.

Dicas Extras

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